Aprenda mais sobre as escrituras sagradas mais antigas da história hindu,
cujos valores são considerados a fonte última da Sabedoria. Escritas há mais
de cinco mil anos, em quantidade, seus versos sagrados ultrapassam a casa
dos milhares, mas seu uso nos dias de hoje é mais simples do que pode
parecer. Veda, do sânscrito: conhecimento. A palavra védico vem dos Vedas
que são livros de conhecimento e se referem a uma civilização que viveu há
cinco mil anos atrás, no vale do rio Indo, na Índia. Os Vedas foram compilados
por volta da época de Krishna, há 3.500 a.C., mas documentos mais recentes
vindos da arqueologia datam as escrituras em até onze mil anos atrás. Para
os vaishnavas gaudias, devotos exclusivos de Krishna, por isso monoteístas, é
nos textos védicos que estão os principais conceitos, símbolos, histórias e
ensinamentos que dão uniformidade à religião. Engana-se quem pensa que os
comportamentos descritos nos Vedas ficaram no passado. Nesse contexto, é
importante compreender que védico não significa apenas indiano. Os Vedas
se manifestaram primeiramente na Índia, mas “há muitas coisas na Índia que
são mais védicas que no Ocidente, e muitas coisas no Ocidente que são mais
védicas que na Índia”, como disse um dia Sua Santidade Hridayananda Das
Goswami Acharyadeva, um dos líderes do Movimento Hare Krishna, religião
que está entre as que mais literalmente estudam os Vedas e seus versos. As
quatro escrituras, Rg, Yajur, Sama e Atharva-Vedas, descrevem os
elaborados rituais e mantras usados na religião do povo, em especial o
hinduísmo e suas vertentes, nos tempos védicos, que se centravam na
adoração de semideuses (ou deuses da natureza). Assim como encontramos
praticamente em toda a parte do mundo antigo (Grécia, Roma, Egito, Norte
da Europa, América do Sul, etc.) a adoração de seres como o deus do sol,
deus dos ventos, do mar também encontramos exatamente isso como sendo
a religião popular da época védica. Os vedas são as escrituras mais antigas
existentes no mundo e constituem a raiz de todo o conceito de Dharma,
palavra em sânscrito para desenvolver a ideia de conduta reta, dever correto,
virtude ou até o "Caminho para a Verdade Superior". Essas escrituras são
feitas de compilações de vários mantras percebidos pelos antigos Rishis
(sábios realizados) durante suas meditações e estados de comunhão divina
(samadhi). Mesmo os Avatares como Rama e Krishna se referem aos Vedas
como sendo a fonte última da Sabedoria, cujos valores eram os praticados
naquele tempo. O objetivo desta cultura é a autorrealização onde os reis, os
comerciantes, os guerreiros, os trabalhadores e todos viviam em função
desse objetivo. Assim surgiu as ciências védicas: Arquitetura (vastu-shastra),
que deu origem ao Feng Shui; a Medicina Ayurvédica, essencialmente
preventiva; Culinária (pratos saudáveis, vegetarianos e saborosos); a
Astrologia Védica, que analisa o presente sob a perspectiva de vidas
passadas; atividades físicas (yoga, danças, artes marciais); e a música védica
(ragas), com uma melodia apropriada para cada hora do dia. Esse conjunto
forma uma maneira védica de viver, e prioriza um estilo de vida que busca o
autoconhecimento e a autorrealiazação. Nos textos sagrados, há também os
Puranas (cuja seção principal é o Srimad Bhagavatam), os épicos - o
Mahabharata (do qual o Bhagavad-gita é a seção mais importante), o
Ramayana, os Upanishads, os Sutras (mais famosos sendo o Vedanta Sutra e
o Yoga Sutra). Os Upanisads são muitos em número (mais de 108). São
tratados filosóficos sobre a Verdade Última e a Realidade. Entre os
Upanishads, um dos mais importantes é o Sri Isopanishad. Ele se destaca por
ser o único que é diretamente parte de uma das quatro escrituras básicas,
sendo parte do Yajur Veda. O Srimad Bhagavatam é o Purana mais famoso e
um livro de espantosa beleza, profundidade, riqueza, filosofia e sabedoria. Ele
revela em grande detalhe a natureza de Deus, da alma, do “reino de Deus”,
do mundo material, do processo de autorrealização, do problema e inutilidade
inerente da adoração de semideuses e importância de buscar um Deus acima
deles, do efeito da consciência na matéria e vice-versa. O livro tem 12 Cantos,
com mais de 14 mil versos. Sua versão traduzida e comentada por Srila
Prabhupada contém 19 mil páginas e está disponível em Português. O
Bhagavad-gita tem toda uma posição especial dentre os Vedas (ou literatura
védica), pois apresenta o aspecto mais refinado da filosofia e prática
espiritual védica - o caminho da autorrealização em yoga. É um resumo de
toda a espiritualidade e filosofia da cultura védica e o texto mais importante
sobre yoga e autorrealização, sendo aceito como o livro base da tradição da
espiritualidade e religião da Índia. No Bhagavad-gita são descritas as
diferentes etapas do caminho do yoga (karma, jnana e bhakti). De todas as
práticas de yoga, Krishna explica no Bhagavad-gita, no verso 6.47, que a
prática superior é bhakti-yoga, a yoga com devoção, também chamada de
consciência de Krishna. “Um exemplo de vida em estilo védico pode ser visto
naqueles que estão hoje à procura do conhecimento de si. Védico é tudo
aquilo que é fruto de um conhecimento mais elevado e nos aproxima de Deus,
indiferente à religião. E todo aquele que busca dar sentido e propósito à vida,
de modo a promover momentos mais saudáveis e felizes faz o que os Vedas
dizem”, conclui o escritor e professor de yoga Giridhari Das. “O que não é
variável na cultura védica é a ciência espiritual, as diferentes formas de
autorrealização e avanço espiritual, culminando em puro serviço devocional
ao aspecto pessoal de Deus”. Não há algo padronizado na cultura védica, em
seu mesclar de ritmos para a música, ou roupas, arquitetura, culinária, etc., c
ada uma com instruções registradas nas escrituras. A palavra-chave para
todas essas áreas do saber, de acordo com modo védico de viver, é o
conhecimento, pois não é variável o fato de que a cultura védica significa
esmerar pela perfeição, pelo conhecimento máximo de tudo que se faz. “Na
música, por exemplo, o védico significa que uma canção revela não só um alto
grau de harmonia, graça e beleza musical, mas também é música que eleva
nossa consciência a Deus. Por exemplo, Vivaldi era um padre, Bach viveu num
mosteiro, e Hendel era muito religioso e usava sua música como forma de
elevar as pessoas e a glorificar a Deus”, lembra Giridhari. É de acordo comum
que todos foram gênios musicais e, por terem feito o melhor dentro do que
sabiam, pode-se classificar suas músicas como cem por cento védicas. Esse é
o segredo para associar o védico ao viver: buscar Deus e a perfeição no que
se faz, transformando sua vida num ato contínuo de honras e devoção
amorosa a Deus. “Estou situado nos corações de todos, e é de Mim que vem a
lembrança, o conhecimento e o esquecimento. Através de todos os Vedas, é a
Mim que se deve conhecer. Na verdade sou o compilador do Vedanta e sou
aquele que conhece os Vedas”. De Krishna, a Suprema Personalidade de
Deus, no Bhagavad-Gita, verso 15.15